sábado, 26 de fevereiro de 2011

Madrugada das Possibilidades

Por Gabriel Guimarães
Essa semana saiu nas bancas de jornal e lojas especializadas as edições da DC que concluem a mega saga "A Noite Mais Densa", que tem o universo de personagens do Lanterna Verde como principal protagonista, porém se ramificando entre os principais títulos da editora, como Superman, Batman, Liga da Justiça e Sociedade da Justiça. A história atingiu o patamar de grande evento do ano da editora e a levou a incrível façanha de passar a Marvel em quantidade de revistas vendidas e de arrecadação nos Estados Unidos. Seu principal roteirista, Geoff Johns, se consolidou como caixa forte entre os profissionais da atualidade, alavancando as vendas de todos os títulos que passou a escrever.

A DC também aproveitou a abordagem da saga para gerar talvez uma mudança determinante para o destaque da editora nessa nova década que começa, uma volta às origens, aos tempos em que os quadrinhos eram claros, mais épicos e ideológicos, contexto este corretamente percebido no título da nova série mensal que foi lançada lá fora e que será publicada a partir de março aqui, "O Dia Mais Claro".











Apesar de todos esses pontos positivos que quis destacar, tenho alguns comentários que considero bastante pertinentes de se levantar aqui. A saga começou a partir de uma deixa criada nos anos 1980 pelo antológico roteirista e criador Allan Moore, numa história onde o dono anterior do anel do setor espacial 2814, Abin Sur, é alertado pelos seres mostruosos de Ysmault sobre a profecia que anuncia a queda dos Guardiões do universo como instrutores da ordem no cosmos. Devido a uma escassez de ideias originais e apostando no estímulo para os leitores mais recentes de buscar histórias antigas dos personagens a fim de compreender a razão dos acontecimentos atuais, a DC investiu todas as moedas no sucesso dessa saga. Em termos artísticos e culturais, é claro que "A Noite Mais Densa" foi a tentativa da DC de aproveitar a onda de popularidade do gênero de terror dos últimos anos, que rendeu sucessos como "Zumbis Marvel" e "Walking Dead". Sendo influenciado por filmes como "A Noite dos Mortos Vivos", o universo DC virou um cemitério ambulante, causando muito mais estardalhaço do que poderia se imaginar, chegando a um nível verdadeiramente apocalíptico para os personagens.

Tendo que enfrentar os corpos decrépitos de seus entes queridos, os personagens estiveram num limiar emocional como nunca antes, e a forma como isso foi mostrado nas revistas alternou demais entre o bom e o ruim, em termos de qualidade. A Sociedade da Justiça, cujo envolvimento com a saga foi brilhantemente desenhada pelo brasileiro Eddy Barrows, foi um dos lados interessantes de se ler, junto com os desafios pelo qual a Tropa dos Lanternas Verdes passaram em Oa e Mogo. Ao mesmo tempo, a parte que coube à Liga da Justiça e a alguns personagens secundários como Starman foram um tanto quanto ridículos, sem força suficiente para enfrentar essa ameaça do mundo dos mortos. A trama se desenrolou na sua linha principal também de uma forma confusa e em ondas de ação e reação não tão bem exploradas, culminando num final de teor pouco dramático e sem muito sal.

Do ponto de vista editorial, no entanto, tenho algumas opiniões muito fortes sobre isso tudo. Primeiro e mais brandamente, gostaria de comentar o quanto foi uma pena não ter ocorrido uma divulgação dessa saga como foi feito lá fora, onde foram distribuidas réplicas dos anéis das tropas multi-coloridas envolvidas na trama. Os fãs desses personagens com certeza teriam apreciado muito esse brinde, e neste ponto, me incluo como um deles. Agora, do ponto de vista sério, o trabalho de edição da saga no Brasil foi bastante fraco. Quem lê meu blog, sabe que eu não sou de criticar sem base, e quando um trabalho de edição nos quadrinhos é bem feito, eu dou uma menção bastante destacada (como fiz quando analisei o arco do próprio Lanterna no surgimento da Tropa Sinestro), porém, dessa vez, eu não tenho como elogiar um trabalho que eu vi que foi tão deficiente quanto este foi.

Eu tentei ler pela cronologia que foi impressa em várias edições envolvidas na saga: não deu certo. Dentro de uma mesma revista, você encontrava histórias antes e depois dos eventos ocorridos em outra revista, que só viria a ser publicada muito tempo depois. Há um erro, inclusive, na tabela, no que tange a quais revistas da série Liga da Justiça estão envolvidas na saga. A primeira relacionada não tem nada da Noite Mais Densa, e a seguinte à última que está lá, sim. Personagens iam e viam, numa edição estavam em um lugar fazendo algo, combatendo alguém, de repente, em outra, estavam no lado oposto do mundo ou do universo fazendo algo completamente diferente. Faltou direção no volante para quem era responsável pela coordenação das publicações da saga, isso qualquer um é capaz de perceber.

--SPOILER para quem não leu ainda--

Basta que se note na parte da trama em que Hal Jordan se deixa possuir pela entidade Parallax a fim de derrotar o Espectro dominado pelo anel negro da Tropa de Nekron. Na edição número 29 da série do Lanterna Verde, o fato que descrevi é consumido no clímax da revista, mas só vamos ver sua continuação na edição 30, considerando que na escala das edições haviam 3 revistas que estariam cronologicamente entre uma e outra, onde, inclusive, na edição da Liga da Justiça número 98, foi publicada uma história já pós-Noite Mais Densa, onde o Lanterna Verde Hal Jordan aparece tranquilamente disposto a formar uma nova Liga. É de dar um nó na cabeça do leitor.

Em termos de história, "A Noite Mais Densa" foi uma história sem grandes destaques ou momentos marcantes, mas pode ser a deixa para algo realmente maravilhoso na DC: um recomeço. O título da matéria é uma referência a isso. A noite obscura terminou, e os raios do sol da esperança começam se lançar por sobre o horizonte. Enquanto o dia mais claro começa a ser construído, acho importante termos esse momento de ponderação. Entre um momento e outro, há uma madrugada, onde deve se planejar o futuro e o que surgirá na nova aurora da DC. Espero que compreendam que a era de crises seguidas de crises já acabou, e agora precisamos de um tempo de calmaria estimulante, onde a força de vontade que levantou a DC precisa ser restaurada e descansada, pelo menos por um tempo. Em breve, já haverá a próxima grande fase da DC, "Flashpoint", porém, diferente de como tem sido lidado até agora, esse arco não parece ter tanto peso e melodrama como as crises da segunda metade da última década que afetaram tanto o teor dos quadrinhos (como destaquei já antes aqui no blog na minha série de matérias especiais sobre as mudanças nos quadrinhos na última década). Veremos o que o futuro nos reserva daqui para frente: rumo a um novo amanhecer esmeralda, espero.

NOTA GERAL: 2,5 estrelas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Face It Tiger... You Just Hit The Jackpot!"

Por Gabriel Guimarães


Com essa frase do título, foi que Peter Parker se deparou pela primeira vez com Mary Jane, aquela que viria a ser seu grande amor nas histórias em quadrinhos pelos próximos 40, 50 anos (só não é mais assim por uma decisão polêmica do editor Joe Quesada que ainda hoje é muito discutida, porém, esse não é o foco da matéria de hoje). De um minuto para o outro, a vida do cabeça de teia, desculpem-me a expressão óbvia, "virou de pernas pro ar". Quantas coisas boas na vida não acontecem dessa maneira, exatamente?

Enfrentamos as dificuldades que surgem à nossa frente, batalhando cada vez mais em busca de um oásis em meio a um deserto que vai até onde os nossos olhos podem ver. E muitas vezes perdemos, ficamos tristes, cabisbaixos, perguntando-nos onde erramos, se poderíamos corrigir tudo, num simples estalar de dedos, ou no caso do Superman das grandes telas, dando várias voltas ao redor do globo para retroceder o tempo. Entretanto, na vida real não é assim. Temos que encarar as consequências de nossas ações, não podemos apagar tudo de errado e ficar só com o que dá certo. Porém, podemos tirar algo de positivo de tudo aquilo de errado que acontece conosco, podemos crescer, nos tornarmos mais fortes, mais capazes, e muitas vezes até mais merecedores de fato daquilo pelo que tanto lutamos. Acho que o leitor deve estar estranhando bastante o tom dessa matéria, mas vou me explicar agora.

Muitas vezes, quando estamos na condição de superarmos nossas dificuldades e paramos de nos preocupar tanto, deixando as coisas fluírem naturalmente, é que portas incríveis se abrem diante de nós, com oportunidades muito além de nossas maiores expectativas. É nesse contexto, que anuncio aqui dois concursos, de que eu tomei conhecimento recentemente, a todos vocês. A editora Panini, em virtude da marca de 100 edições publicadas dos seus títulos "Superman", "Batman" e "Liga da Justiça", abriu um concurso artístico onde quem enviar para a editora por meio online as ideias mais criativas que homenageiem esses marcos, seja por desenho, foto, pintura, etc, concorre à arte original que será usada nas capas dessas edições, por seu título correspondente. Essas artes serão, nada mais, nada menos, que de autoria dos grandes artistas brasileiros que trabalham para o mercado americano, Joe Prado (que fará a capa da revista do cavaleiro de Gotham), Eddy Barrows (que fará a capa da edição do personagem com que trabalha atualmente, o Superman), e Ivan Reis (que fará a capa da Liga, onde já teve muitas de suas edições do Lanterna Verde publicadas no passado). Pode-se participar com quantas obras preferir, porém, caso seja premiada, apenas uma delas será. Para conferir o regulamento e forma de inscrição de forma correta, o link para o hotsite da Panini é este.

Ao mesmo tempo, o site do cartunista Will Leite anunciou um concurso de desenho para concorrer a uma camisa personalizada pelo próprio autor do site. Conforme ele for recebendo os materiais que concorrerão, ele os postará no seu Tumblr para júri popular, o que é uma grande oportunidade para exibir seu trabalho e expor suas habilidades no traço, para aqueles de vocês que desenhem. O endereço para a matéria que anuncia o concurso é este, e o do Tumblr do Will é este.

Eu não acredito que as coisas aconteçam de forma aleatória, e, como disse no começo da matéria, essas portas de oportunidade surgem quando menos esperamos que vão surgir. Não sei se algum de vocês estava se sentindo sem chance de lutar por um futuro nos quadrinhos, ou se simplesmente precisavam de alguma forma de motivação, porém, quis hoje lhes fornecer essa ferramenta para mudar as suas histórias. Eu também participarei de ambos os concursos, e ficarei no aguardo pelos seus resultados. Ainda assim, torço sinceramente pelo sucesso de todos aqueles daqui que decidirem tomar parte em algum deles.

Façam de todos os seus dias os dias mais claros, para que sempre possam ir para o alto e avante, além de onde os limites do imediato pode ver, rumo a um grande futuro. Nas palavras de Disney, "Keep moving forward" (Siga sempre em frente). Nos vemos lá.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Homenagem ao Superman Clássico

Por Gabriel Guimarães
Alguns dias atrás, um dos animadores dos estúdios Disney, Robb Pratt, responsável por trabalhos como Tarzan, Hércules, entre outros, resolveu prestar uma homenagem à clássica versão do primeiro super herói das histórias em quadrinhos, Superman. Veja abaixo o curta e, após ele, os comentários de produção feitos pelo próprio animador apresentado em sequência.

Tendo protagonizado diversos seriados de televisão ao longo de sua história, Superman é o grande ícone dos quadrinhos para a cultura americana e, por isso, preencheu o espectador de sonhos e ideias. No curta produzido por Pratt, o personagem que o protagoniza é uma versão bem simples do herói, como costumava ser na época de seu primeiro momento avassalador na década de 1940, e é uma boa homenagem aos velhos e bons tempos em que ser um herói era mais simples e virtuoso.


A discussão entre os valores de hoje e a visão maravilhada dos valores de ontem pela cultura atual foi muito bem explorada no artigo feito pelo professor da UFRJ Octávio Aragão, "O futuro não é mais como antigamente", que vale a pena conferir.

Enquanto essa discussão não termina, o que parece estar muito longe de acontecer, aproveitemos essas nostalgias e lembranças de momentos que nem sequer existiram propriamente em muitos casos, e sonhemos com a quebra de barreiras socio-convencionais da atualidade, para alçarmos voo rumo a mundos maravilhosos que apenas nossas imaginações são capazes de comportar. Para o alto e avante!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Workshop com Eddy Barrows

Por Gabriel Guimarães
Neste último sábado, dia 29 de janeiro, ocorreu nas instalações da subsidiária da Impacto Quadrinhos no Rio de Janeiro um workshop com o desenhista brasileiro Eddy Barrows, responsável pelo traço de várias edições do Superman e que colaborou com muitas edições para o mega evento A Noite Mais Densa, trabalhando nos desdobramentos que a história teve nos títulos do Superman e da Sociedade da Justiça.

Começando de manhã e indo até de tarde, a oficina mostrou um ponto raro de ser encontrado nas aglomerações dos admiradores de quadrinhos: explorou de forma enfática e pontual a carreira de um desenhista de histórias em quadrinhos. Apesar de algumas generalizações sobre certos pontos, a palestra realmente foi ótima. Barrows explicou como é seu relacionamento com seus colegas de trabalho, como faz seu dia-a-dia funcionar em função dos prazos, e como lidar com estes. Entretanto, o ponto mais interessante e estimulante abordado foi a questão relativa ao direcionamento de carreira dos desenhistas, ponto que muitos não pensam muito enquanto estão trabalhando.


Eddy Barrows explicando seu processo criativo para uma
 página dupla da SJA 

Utilizando de exemplos do próprio meio, que permitiu ao público visualizar bem o que estava sendo dito, o desenhista mineiro conseguiu prender os espectadores que abarrotavam a sala do terceiro andar de uma escola, onde o curso funciona. O público, composto em grande parte por alunos do próprio curso, ficou atento o tempo inteiro, participando e tirando todas as dúvidas que tinham com o palestrante, que se integrou muito bem com o assunto e entrosou rapidamente com todos ali presentes.

A palestra apresentou ainda uma análise caso a caso em cima de diversas obras de Barrows, que explicou como produziu cada uma delas, e deu projeções para seus trabalhos futuros, seu decorrer profissional e seus conselhos aos novos marujos da carreira no mercado de quadrinhos.

Após a palestra, houve avaliação de portfolios com o desenhista e venda de layouts originais dele, junto com revistas importadas que continham seu traço. Aos que se interessaram por compra-las (dentre as quais haviam páginas excelentes e de espantosa qualidade), houve depois a oportunidade de pegar o autógrafo do seu artista, que demonstrou estar satisfeito com o reconhecimento que estava tendo ali.

Barrows ainda comentou sobre a necessidade de surgir uma referência para os quadrinhos nacionais no Rio de Janeiro, uma vez que em outros grandes centros, já há nomes, enquanto aqui, não se tem um artista que possa ser o estandarte do gênero de forma apropriada. Isso foi extremamente exultante, pois ele discorreu de uma forma consistente e inspiradora, que, eu garanto, não sairá da memória daqueles que lá estiveram.

Tudo foi ótimo, excetuando-se o calor em que a reunião se deu, elevado pelo fato de a escola sede ter tido problemas com a rede elétrica recentemente e não ter tido a oportunidade de ter um ar condicionado instalado a tempo. Os organizadores se desdobraram para garantir a realização do evento, uma vez que tudo já estava organizado antes do problema estrutural surgir; creio que isto merece uma nota aqui pela determinação de todos.

Somo às palavras de Barrows meu sentimento pelo crescimento da nona arte no Rio de Janeiro. Vejo na cidade, que é a mais bonita do mundo, o maior potencial artístico de todos. Cada esquina, cada rua, cara praia, cada pessoa; todos são obras de arte, aqui, tudo é arte, é vida. Precisamos dar a importância devida a isso, não podemos jamais esquecer, jamais esmorar, jamais abandonar a veia artística. Estimulem-se, regozijem-se, criem. Que o Rio de Janeiro possa ser o rio de esperanças para vocês, possa ser o berço de seus mais maravilhosos sonhos, seus mais incríveis desejos. Que o Rio de Janeiro seja o rio de seus sonhos, de todo o seu ano, de toda sua vida. Que ele possa ser o seu Rio de Janeiro, dentro de seus corações e de cada folha de papel que vocês desenharem, escreverem e/ou criarem. Tomem posse de sua terra, e nela, vivam seus maiores sonhos. Esse é o meu desejo para todos os cariocas que aspiram a um dia alcançar a uma profissão no ramo dos quadrinhos. Fiquem todos com Deus, e até a próxima.