domingo, 14 de agosto de 2011

Um Eternauta para a Eternidade

Por Gabriel Guimarães 

Francisco Solano López
 Nesta semana, a editora Martins Fontes confirmou o lançamento nesse segundo semestre da história em quadrinhos argentina El Eternauta, originalmente publicada em 1957 na revista Hora Cero Semanal, e que se transformou numa das HQs mais importantes na história desse meio de comunicação na Argentina. Entretanto, essa boa notícia infelizmente não veio a ser comemorada pelo desenhista original da série, Francisco Solano López, um dos nomes mais importantes da nona arte do país, pois ele faleceu aos 83 anos, em decorrência de uma queda ocorrida na semana passada dentro do hospital onde se recuperava de um AVC.

López ao lado de seu personagem Eternauta
 Os quadrinhos, como um meio de comunicação, chora pela perda de mais um de seus grandes autores. López desenhava desde 1953, quando começou trabalhando para a editora Columba sendo responsável pela arte de revistas como Perico y Guillerma. Algum tempo depois, colaborou pela primeira vez com o roteirista Héctor Germán Oesterheld, para ilustrar sua história Bull Rocket para a revista "Misterix", publicada pela editora Editorial Abril, cujo dono era Cesar Civita, irmão de Victor Civita, que veio a fundar a editora Abril aqui no Brasil publicando quadrinhos Disney e seguindo para todo tipo de vertente da arte sequencial. A parceria com Oesterheld se extendeu a outras duas séries, Pablo Maran e Uma-Uma, até que ambos migraram para a Editorial Frontera, onde passaram a trabalhar no título Hora Cero, onde mais tarde a maior criação da dupla teve início, o Eternauta.

Edição da revista Hora Cero com a
 história do Eternauta
 Contando a história de um grupo de sobreviventes de um fenômeno aparentemente natural na cidade de Buenos Aires, mas que se revelou aos poucos como um plano contra a humanidade posto em prática por uma raça de alienígenas invasores. A história marcou época por ser uma “metáfora alucinante do país arrasado, entregue aos interesses externos e dominados pelo invasor”, nas palavras que estão na apresentação da edição comemorativa dos 50 anos do personagem, lançada em 2007. As críticas políticas, inclusive, foram tão acentuadas, que López foi exilado para a Europa na década de 1960, onde continuou produzindo quadrinhos em Madri e em Londres.
Álbum brasileiro em que
López trabalhou 

Anos depois, regressou à Argentina e retomou o Eternauta, ainda em parceria com Oesterheld, publicando, em 1968, o arco Eternauta II, em uma nova editora, a Editorial Records. Nos anos seguintes, continuou trabalhando com histórias de ficção científica, e mais tarde, com quadrinhos de estilos diversos. Na década de 1980, López veio morar no Brasil, onde chegou a produzir em parceria com Allan Alex os desenhos para o álbum "Sangue Bom", escrito por Carlos Patati, um dos grandes estudiosos da arte sequencial no país e que mais tarde veio a escrever o livro "Almanaque de Quadrinhos" pela Ediouro em 2006. Esse trabalho chegou a ser publicado em 2003 aqui e disponibilizado pelo HQ Clube na época.

López construiu uma carreira com muito potencial e acrescentou muito ao gênero dos quadrinhos ao redor do mundo. Ele chegou ainda a colaborar com Hugo Pratt, criador do Corto Maltese (cuja abordagem às diferentes culturas do mundo já foi analisada aqui no blog antes), na história "Ernie Pike", publicada em 1957, na Argentina. Sua perda é algo muito forte para os quadrinhos como um todo, em especial o argentino. Conforme disse o portal Página 12, que noticiou o trágico acontecimento, o Eternauta, grande criação da carreira de López, representou tanto que "se tornou o protótipo do herói, um símbolo de toda uma época da histórica cultural do país."

Em algum tempo, o povo brasileiro poderá usufruir dessa tão importante obra na língua portuguesa, e, então, prestar uma homenagem verdadeiramente digna a esse grande criador, mantendo-o vivo através do legado de suas histórias.

7 comentários:

Nano disse...

Parabéns pela lembrança... É um dos autores que sempre quis conhecer, mas ainda não tive oportunidade de ler.

Anônimo disse...

Outro nome e trabalhos para mim conhecer.

luiz_modesto disse...

Uma pena que tenham levado mais de 50 anos para editar no Brasil esta HQ. Já li a edição argentina e realmente é de muita qualidade, com uma história bem envolvente.

Lucas Pimenta disse...

Um dos melhores Quadrinhos produzidos no mundo!

Uma grande perda!!

Helton dos Reis disse...

Sobrinho, bonita homenagem!
Você captou bem a idéia deste personagem que fará sucesso quando chegar ao Brasil, pois trata de uma realidade de todos nós, latino-americanos.

Abraços.

* Andhora Silveira * disse...

Parece ter sido um grande autor =/ Não conheço seu trabalho... Irei procurar conhecer. De fato, uma grande perda.

Bela homenagem, Gabriel.

GG disse...

Não é possível falarmos de quadrinhos argentinos sem mencionar a grande importância que a HQ do Eternauta teve para a cultura do gênero no país. Foi uma grande perda para os quadrinhos, uma vez que o legado de López é enorme. Entretanto, apesar de não estar mais aqui, o conteúdo de suas histórias sempre estará conosco, ao lermos seu material de tamanha qualidade. Esperemos pelo lançamento da editora Martins Fontes e torçamos para que sua qualidade de acabamento reflita a determinação de seus autores, que levaram tempo demais para chegar às terras brasileiras.