terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um Rio de Arte Que Não Mais Correrá

Por Gabriel Guimarães

Al Rio em cima de sua prancheta
Um dia após o Dia do Quadrinho Nacional, é com grande pesar que chega a informação do falecimento do talentoso artista cearense Alvaro Araújo, mais conhecido pelo seu nome artístico Al Rio, a toda a comunidade de admiradores da nona arte. Um dos primeiros brasileiros a se aventurar profissionalmente no mercado americano de histórias em quadrinhos, Rio passou por grandes títulos e editoras, consolidando sua carreira como um artista extremamente versátil e talentoso.

Homem-Aranha no traço de Al Rio

Conforme foi confirmado pela Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) de Fortaleza, onde residia no bairro de Serrinha, Rio foi encontrado já sem vida, porém, as causas para esse acontecimento chocante no público da arte sequencial não foram oficialmente confirmadas. Tendo participado recentemente da primeira edição da ComicCon, segmento do evento Sana Fest 2012, Rio demonstrava estar bem de saúde, e sua carreira vinha em alta estima junto aos profissionais da área e o público. Qualquer novidade acerca do motivo dessa perda, informaremos aqui no blog.

Entretanto, não nos firmemos apenas à perda desse grande artista de 50 anos, mas lembremos sua brilhante carreira na indústria de HQs, que merece ser reconhecida e valorizada por tudo que foi conquistado por ele. Muito conhecido pelo seu domínio sobre a figura feminina, Rio foi o responsável por desenhar uma grande quantidade de personagens protagonistas femininas conhecidas no ramo dos super-heróis, como a bárbara Red Sonja, Vampirella, Gen13, entre outras. Rio também foi desenhista de grandes personagens das gigantes Marvel e DC, onde trabalhou com os X-men, Capitão América, Hulk, Mulher Maravilha, Novos Mutantes, entre muitos outros.

Mulher Maravilha
desenhada por Rio

Sempre sendo lembrado quando uma história precisava de um traço sensual e de boa fluição, Rio estava prestes a concluir a produção da história "Fever Moon", escrita pelos autores de best-sellers Karen Marie Moning e David Lawrence, que viria a ser lançado pela editora Random House neste verão. Além disso, ele trabalhava em projetos pessoais envolvendo tramas de ficção científica e constantemente doava parte de seu material original para causas sociais.

A família de Rio foi, de longe, a mais afetada por essa estarrecedora notícia, e gostaríamos de deixar aqui todo o apoio possível para eles, e que Deus possa trazer-lhes paz neste tempo de choque.

A quem interessar, o site Studo Made in PB apresentou uma boa matéria sobre esse acontecimento, que pode ser conferida aqui, e o site americano Bleeding Cool apresentou um trabalho mais minucioso acerca das informações sobre a carreira de Al Rio e seus trabalhos correntes, o que também pode ser conferido aqui.

Al Rio, em 1995, em frente ao mural da Marvel na fachada
da Comic Shop Revistas & Cia, postada pelo desenhista
J. J. Marreiro em seu Facebook

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Resultados e Comemorações

Por Gabriel Guimarães


Ângelo Agostini
Em 30 de janeiro de 1869, ocorria a primeira publicação do material do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, uma história apresentada através de imagens em sequência para gerar a compreensão lógica da relação entre elas. Essa história, "As Aventuras de Nhô Quim", publicada originalmente no jornal Vida Fluminense, constituiu um marco para a história dos quadrinhos enquanto meio de comunicação, e Agostini se tornou, dessa forma, um dos grandes precursores das histórias em quadrinhos tradicionais. Ainda que muitas vezes seja esquecido por alguns historiadores, como foi o caso na publicação do livro "1001 Comics You Must Read Before You Die", da editora americana Cassell Illustrated, Agostini apresentou cerca de 26 anos antes do americano Richard Outcault uma história com as mesmas propriedades expressivas com igual teor político estilizado, tal qual a produção do americano, as tiras "Down Hogan's Alley", mais tarde renomeadas a partir de seu personagem de maior destaque, "The Yellow Kid".

Para que a memória desse grande pioneiro não fosse esquecida, e seu legado pudesse manter-se ativo na memória de todos os profissionais da indústria dos quadrinhos, em 1984, a Associação dos Quadrinistas e Cartunistas de São Paulo instituiu este dia 30 de janeiro como Dia do Quadrinho Nacional, fato que até os dias de hoje é muito celebrado por todos os admiradores da arte sequencial brasileira. O blog "O Quadrinho" fez uma bela matéria em homenagem a Ângelo Agostini hoje que merece ser conferida, o que pode ser feito aqui.

Com a força que os quadrinhos nacionais vem recebendo nos últimos anos, em especial o esplêndido ano de 2011, o qual considero como tendo sido o ano em que foi apresentado o novo panorama dos quadrinhos brasileiros no Brasil dos Quadrinhos, o mercado cresceu muito, e os autores têm conseguido receber um pouco do reconhecimento que tanto merecem por seus esforços e talentos. Um exemplo disso é o grande roteirista paulistano Celso Menezes, que anunciou hoje o segundo volume da sua história "Jambocks!", sobre a participação do Brasil nos grandes conflitos militares internacionais. Tendo lançado o primeiro volume em 2010 através do programa de incentivo à produção cultural do estado de São Paulo, o ProAc, junto do excelente desenhista Felipe Massafera, a união desses dois grandes profissionais poderá ser novamente conferida no segundo volume da história, que trata da defesa do canal do Panamá realizada pelo exército brasileiro. Certamente, a história valerá a pena ser conferida.

Para comemorar esse dia, nós do Quadrinhos Pra Quem Gosta lançamos, há algumas semanas, a segunda promoção da história do blog, "Quadrinhos Pra Quem Gosta no Dia do Quadrinho Nacional". Depois de muitas inscrições de vários estados brasileiros, enfim, realizamos o sorteio de cada um dos prêmios, e o resultado foi o seguinte:

DVD "Superman - Um Pedacinho de Casa" - Nicolas Queirós (@nicolasqueiros);

DVD "Superman/Batman - Apocalypse" - Luis Henrique Garavello (@luisgaravello);

DVD "A Morte do Superman" - Victor Serpa (@victordequide);


Encadernado "Coleção DC 70 Anos: As Maiores Histórias do Lanterna Verde" - Vitor Silveira Pereira (@vitor655);


Livro "Reféns", autografado pelo autor Rafael Neves - Luciana Cristian (@L2CG);

Livro "Os Passarinhos e Outros Bichos", autografado pelo autor Estevão Ribeiro - Vinícius Cunha (@thevinil);

Livro "Intempol: Para Tudo se Acabar na Quarta-Feira", de Octavio Aragão e Manoel Ricardo, autografado pelo autor Octavio Aragão - Nina Rocha (@ninarocha);

Desejamos, portanto, os mais sinceros parabéns a todos os participantes, e agradecemos a todos os muitos parceiros do blog, que tornaram possível essa merecida premiação aos leitores do Quadrinhos Pra Quem Gosta. Os vencedores serão contatados pelo blog através de mensagens diretas no twitter e/ou e-mail, para que a entrega dos prêmios seja combinada de forma correta. Mais uma vez, muito obrigado pela participação de todos, e:

FELIZ DIA DO QUADRINHO NACIONAL!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As Aventuras Cinematográficas de Tintin

Por Gabriel Guimarães


Na última sexta-feira, dia 20 de janeiro, estreou nos cinemas brasileiros, após uma longa espera, o primeiro longa em computação gráfica de captura de movimento do aclamado personagem belga de quadrinhos, Tintin, criado em 1929 e publicado até 1976 pelo franco-belga Georges Prosper Remi, mais conhecido pelo seu pseudônimo Hergé. Com "As Aventuras de Tintim", o personagem, que teve grande destaque entre as décadas de 1930 e 1970, volta a chamar atenção do grande público, e tem tudo para continuar em evidência mediante melhor trabalho de licenciamento de sua imagem, algo ainda muito carente.

Peter Jackson e Steven Spielberg, juntos do personagem Tintin

Contando com efeitos especiais de extrema qualidade e com profissionais de muito renome na indústria do cinema, como Steven Spielberg e Peter Jackson, o filme expõe de forma magistral o universo em que o jovem repórter Tintin está inserido, com todos os seus minuciosos detalhes de composição de cenários e de referências às demais obras do quadrinista Hergé. Uma vez que reúne em si as histórias de três álbuns do personagem, "O Carangueijo das Tenazes de Ouro" (1941), "O Segredo do Licorne" (1943) e "O Tesouro de Rackham, o Terrível" (1944), o filme apresenta uma síntese bem amarrada das tramas relacionadas, e cativa a atenção do público, tanto os já familiarizados com as obras em quadrinhos do personagem quanto os recém apresentados novos espectadores.

Com uma narrativa empolgante, um preciosismo admirável aos detalhes gráficos e uma atenção especial à caracterização dos personagens, dentre os quais, se destaca o velho marujo do mar, Capitão Haddock (cujo aniversário de criação foi comemorado aqui no blog), o filme representa uma grande oportunidade para um pai apresentar a seus filhos o maravilhoso mundo que os quadrinhos podem abrigar, que está claramente representado em todas as cenas do filme.

Tintin retratando seu criador, Hergé

Vale destacar também a primeira cena propriamente dita do filme, após os um tanto demorados créditos iniciais, em que o primeiro rosto que aparece na tela não é do personagem principal do filme, mas sim uma homenagem ao grande quadrinista criador de todo esse universo ficcional, Hergé, que aparece retratando Tintin em um desenho como os caricaturistas das feiras de rua. Simplesmente impressionante essa atenção aos bastidores do personagem. A quantidade de elementos apresentados em pequenos detalhes ao longo do filme que recorrem aos demais álbuns de Tintin são muito bem realizados, e a ausência de uma história de origem para o personagem, algo tão tradicional na composição de protagonistas da cultura pop, passa praticamente desapercebida.


Personagens menores, mas não menos importantes, como os irmãos Dupont e Dupond, o mordomo Nestor  e a cantora de óperas Bianca Castafiore ganharam também seus momentos de destaque, apesar de suas aparências estarem um pouco mais forçadas para o cartunesco do que nas histórias em quadrinhos. A interpretação, porém, foi bem trabalhada, e seus papéis no filme corretamente realizados. A ausência ficou por conta do carismático e atrapalhadamente genial professor Girassol, cuja participação deve ser acrescentada na continuação praticamente garantida.

Jamie Bell e Andy Serkis, respectivamente, durante
sessão de captura de movimento

Contando com atores bastante conhecidos para realizar os movimentos dos personagens, que foram captados pelo computador a fim de criar todo o visual do filme, como Jamie Bell (protagonista do filme "Billy Elliot") no papel de Tintin, Daniel Craig (o atual James Bond dos filmes de 007) no papel de Ivan Sakharine e o extremamente versátil Andy Serkis (que é o grande nome do setor cinematográfico no que tange ao sistema de captura de movimento, já tendo sido o responsável no passado por papéis como o do obcecado Gollum, da trilogia "O Senhor dos Anéis" e do grande gorila cujo nome é o mesmo do da obra em que está inserido, "King Kong") no papel de Archibald Haddock, o filme tem uma qualidade ímpar, surpreendendo o público, até então inseguro com filmes estritamente realizados nesse sistema, como o pouco lembrado "Conto de Uma Noite de Natal" e o oscilante "Expresso Polar".

O filme, cujo site oficial pode ser conferido aqui, portanto, é um material que vale muito ser conferido, e cujo conteúdo reflete de forma bastante correta todo o minucioso processo de criação realizado por Hergé quando fazia seus quadrinhos, através de estudo atento aos detalhes da representação real dos ambientes e objetos retratados. O efeito 3D do filme, porém, é um detalhe que divide a opinião do público. Apesar de enriquecer o material ainda mais em determinados momentos, causa certo incômodo para a vista em outros, e os cinemas brasileiros parecem estar exibindo o filme quase que apenas dessa forma que carece dos óculos especiais, o que é um fator bastante negativo. O ideal seria a disponibilidade das duas formas de exibição, tanto em 3D quanto em formato tradicional.

Vale destacar também que os nostálgicos da série de desenho animado da década de 1990 do personagem vão encontrar um material de alta qualidade e que os fará reviver grandes emoções na companhia de todos esses inesquecíveis personagens. A trilha sonora, entretanto, não impacta muito, e a música principal do seriado animado, que dava muito o tom de sequência de ação da história, não está no filme, o que poderia ser mais um ponto positivo para a produção.



Para não haver problemas sobre a consideração dos leitores sobre o filme, não vamos abordar momentos específicos demais do filme, a fim de que vocês possam tirar suas próprias conclusões sobre este material por conta própria, porém, vale destacar que a cena final poderia ter sido um pouco melhor trabalhada, ainda que seja compreensível sua abreviação pelo já extenso tempo de duração do filme, entretanto, isso não fere a imagem do filme, e este ainda se qualifica como uma bela abertura para as adaptações de quadrinhos a serem exibidas nos cinemas brasileiros.

NOTA GERAL: 5 ESTRELAS.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

No Dia Nacional dos Quadrinhos, Quem Vai Ganhar Presentes Vai Ser Você!

Por Gabriel Guimarães


No final do ano passado, foi afirmado através das redes sociais que, caso o blog Quadrinhos Pra Quem Gosta alcançasse a marca de 100 (cem) matérias no ano, seria realizado uma nova promoção com o objetivo de premiar os nossos muitos leitores, que ajudaram no crescimento da proposta do blog, que visava levar as histórias em quadrinhos para uma discussão entre os verdadeiros amantes da arte sequencial com único intuito de auxiliar no maior reconhecimento deste enquanto meio de comunicação. Uma vez que este objetivo foi atingido no dia 31 de dezembro de 2011, é com grande orgulho que anuncio o segundo evento do blog, o "Quadrinhos Pra Quem Gosta no Dia do Quadrinho Nacional".

Para participar é simples, basta curtir nossa página no Facebook, que pode ser encontrada aqui, seguir o twitter no blog, @QuadrPraQmGosta, e retwitar o seguinte: "No Dia Nacional dos Quadrinhos, quem ganha presentes do Quadrinhos Pra Quem Gosta é você! http://kingo.to/XXo #QuadrinhosPraQuemGosta" até o dia 30 de janeiro, quando, além de ser comemorado o Dia Nacional dos Quadrinhos, também será realizado, via twitter, o sorteio dos seguintes prêmios:

Livro "Os Passarinhos e Outros Bichos", autografado pelo autor Estevão Ribeiro;

Livro "Reféns", autografado pelo autor Rafael Neves;

Livro "Intempol: Para Tudo se Acabar na Quarta-Feira", de Octavio Aragão e Manoel Ricardo, autografado pelo autor Octavio Aragão (NOVO);

Encadernado "Coleção DC 70 Anos: As Maiores Histórias do Lanterna Verde";

DVD "Superman - Um Pedacinho de Casa";

DVD "A Morte do Superman";

DVD "Superman/Batman - Apocalypse";

A participação é livre para todo o território nacional brasileiro, e a entrega posterior dos prêmios será feita mediante agendamento de entrega por mensagem particular com cada um dos respectivos vencedores, por twitter e/ou e-mail. Quanto maior a divulgação feita da promoção, maior a sua chance de conseguir um desses grandes prêmios. Não deixe de participar desta!

Em caso de dúvida, sintam-se livres para enviar mensagens para o nosso twitter, que responderemos a todos conforme for possível. Fiquem atentos para qualquer novidade da promoção pelas redes sociais, e, mais uma vez, boa sorte a todos!





 
















sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Conclusão de Um Grande Curso

Por Gabriel Guimarães


Após quatro dias de intenso aprendizado na Caixa Cultural durante o evento "Super-Heróis X Anti-Heróis - Dos Quadrinhos às Telas", o curso ministrado pelo estudioso Carlos Patati acerca das relações entre as histórias em quadrinhos e o cinema chegou ao fim. Apresentando o panorama atual do mercado de quadrinhos autobiográficos e o atual frutífero momento que passa a produção brasileira de quadrinhos, Patati reforçou o estímulo que vinha fazendo ao desenvolvimento da percepção cultural dos ouvintes presentes.

Iniciando o dia observando a concepção do estudo de quadrinhos a partir dos americanos Scott McCloud e Will Eisner sob o prisma da relação entre traço e composição de narrativa, Patati observou o paradigma que existia nos quadrinhos, onde quanto mais densa e aprofundadamente extensa for a história a ser contada, maior é a necessidade do traço que a narra ser simplificado, afim de facilitar a interpretação por parte do leitor. Isso vem mudando nos últimos tempos, com a produção de um grande número de graphic novels e a nova realidade do mercado, que hoje se encontra majoritariamente concentrado nas livrarias. Apesar disso, o mercado de valorização dos quadrinhos ainda é incipiente, e devido a isso, muitos profissionais do meio acabam migrando para outros setores que lhes garanta um retorno financeiro e de reconhecimento maior. É por essa razão que o quadrinista brasileiro Lourenço Mutarelli, após muito tempo fazendo arte sequencial, decidiu se arriscar no meio literário, lançando o livro "O Cheiro do Ralo", que não muito depois, foi adaptado para um filme de maior repercussão, estrelado pelo ator Selton Melo, e que ainda será exibido na amostra da Caixa Cultural no dia 22 de janeiro. O retorno financeiro foi muito positivo, e por um tempo, Mutarelli se afastou da nona arte, retornando apenas pouco tempo atrás, com mais prestígio e abertura para divulgação.

Outro exemplo de autores nacionais citado por Patati nesse quesito é o talentoso quadrinista Marcelo Quintanilha, que produz suas crônicas visuais em um estilo bastante realista como uma atividade pessoal, enquanto se sustenta com trabalho realizado para um título de quadrinhos periódico na Espanha, onde reside atualmente. Suas obras "Sábado dos Meus Amores" e "Almas Públicas" são recomendações que já foram feitas aqui no blog, o que merece ser reforçado neste momento. 


"Epilético", do francês Pierre-
François Beauchard, sob o
pseudônimo David B.

Baseando-se na influência das limitações orçamentais, Patati destacou o trabalho da geração de fanzineiros brasileiros que hoje conquistou uma fatia de mercado ainda em crescimento. Danilo Beyruth, com seu "Necronauta", e os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, com seus "10 Pãezinhos", são os casos mais claros disso. Programas de incentivo à produção nacional de quadrinhos como o ProAc, de São Paulo, além da determinação e despesas pessoais com divulgação por parte dos autores, são algumas das ferramentas através das quais esse crescimento foi possível, e hoje, observamos uma transição na realidade criativa brasileira. Com o aumento da quantidade de romances gráficos em quadrinhos nas livrarias, desde "Persepólis", da iraniana Marjane Saltrapi, até "Retalhos", de Craig Thompson, "Epilético", do francês Pierre-François Beauchard, "Umbigo Sem Fundo", do americano Dash Shaw, e até mesmo "Caixa de Areia", do próprio Mutarelli,  é surpreendente a reação da produção brasileira a isso, com muitas revistas independentes e álbuns sendo preparados com essa lógica. Entretanto, uma barreira permanece presente, a da falta de uma herança cultural digna da grandeza de nossa própria história.


"Necronauta", de Danilo Beyruth
Patati destacou que o cenário em que grandes clássicos da história da literatura mundial não difere tanto do que acaba sendo necessário à produção de quadrinhos na atualidade. O russo Dostoiévski e a brasileira Janete Clair, por exemplo, publicavam seus textos de forma periódica, para, ao seu término, concluir com uma publicação oficial da obra completa, tal qual é visto no mercado de quadrinhos. Da mesma forma, a necessidade muitas vezes de uma ocupação de sustento primária, ao mesmo tempo em que se produzem obras de teor cultural em quadrinhos ou texto num segundo plano, é encontrado na história de autores como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, e também no já citado Danilo Beyruth e muitos outros quadrinistas brasileiros, como Emerson Lopes e Octávio Aragão.


Bancada do inconfundível
Arafatt, onde têm estado expostos
vários exemplos dos quadrinhos
analisados por Patati no curso

O padrão cultural brasileiro, infelizmente, não é o mais propício para o desenvolvimento correto da produção artística e literária, porém, há pessoas lutando para mudar esse cenário, conforme Patati ressaltou na figura do editor. Profissional responsável pela estruturação das histórias e todo o campo relacionado à sua expansão extra-ficcional, o editor é visto de forma errada no Brasil, como tanto a pessoa que realiza essas funções como aquele que meramente ocupa a cadeira de presidente das grandes editoras. A figura do editor é de suma importância, e merece ser vista de acordo com sua verdadeira natureza. Da mesma forma, a educação precisa ser levada a sério, com a profundidade necessária e o estímulo devido à expansão do ato de observar o que se está ao redor, o mundo que cerca a cada um dos estudantes.


A última aula de Patati se expandiu ainda por algumas outras áreas, porém, cita-las todas aqui com a mesma linha de raciocínio apresentada e precioso detalhismo é uma tarefa quase impossível, a qual humildemente não tentarei reproduzir na íntegra, pois apenas estando na presença de um apaixonado estudioso e mestre da área como foi o curso é que se é possível absorver um mínimo aceitável deste conteúdo transmitido. O evento organizado pela Agência Domínio Público, portanto, merece uma cordial salva de palmas, e um sincero agradecimento pela disponibilização de curso de tamanha importância para se compreender o meio de comunicação primoroso que é as histórias em quadrinhos. No restante do dia, ainda foram exibidos "Sin City", "X-Men Origens: Wolverine" e o nacional "Meteorando Kid". Apesar da conclusão do curso, o evento permanecerá em cartaz na Caixa Cultural, no centro do Rio de Janeiro até o domingo da outra semana. Até lá, a quantidade de obras a serem exibidas é impressionante, e haverá ainda a realização de três debates, muito recomendados de serem conferidos, sobre "Origem e Evolução das Personagens", dado pelo estudioso Álvaro de Moya e o jornalista Heitor Pítombo, no dia 17; "Super-Heróis e Anti-Heróis - Missão Através dos Tempos", com os estudiosos Moacy Cirne e Wellington Srbek, no dia 18; e "Dos Quadrinhos às Telas - Técnicas e Estética", com o quadrinista Allan Sieber e o estudioso Antônio Moreno, no dia 19. Simplesmente imperdível.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Terceira Parte da Jornada

Por Gabriel Guimarães



Tão rápido quanto começou, o terceiro dia do evento "Super-Heróis X Anti-Heróis - Dos Quadrinhos às Telas", realizado na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, terminou a terceira etapa da oficina ministrada pelo estudioso da nona arte, Carlos Patati. Centrado principalmente na revolução dos quadrinhos na década de 1980, dois dos grandes nomes do mercado mundial de quadrinhos até os dias de hoje foram muito lembrados e debatidos. Os dois principais responsáveis por uma nova leva de profissionais influenciados por seus trabalhos, o britânico Alan Moore e o americano Frank Miller, não poderiam ser esquecidos.

Iniciando o dia com a história "Batman: Ano Um", escrita por Miller e ilustrada por David Mazzuchelli, sob influência do trabalho do argentino Muñoz, mencionado na matéria de ontem, que pode ser conferida aqui, Patati apontou as mudanças na abordagem do universo de personagens presentes na história do personagem da DC como o comissário Gordon e a forma como o Departamento de Polícia de Gotham agia em relação à figura do detetive fantasiado que era protagonista das aventuras.

Passando então para outros trabalhos de Miller, foi-se muito destacada a sua série pessoal, "Sin City", onde ele realizava os experimentos com os recursos de quadrinhos que mais lhe aprouvessem. Contando com noções de composição de cena, contraste e uso de cores de forma surpreendentemente eficazes, o trabalho do autor norte-americano conseguiu alcançar um status de grande obra de quadrinhos. Ressalta-se, porém, que isto apenas foi possível (a produção dessas determinadas histórias) mediante a já construída credibilidade que o autor adquirira através dos seus muitos anos produzindo quadrinhos de heróis. Os gastos com a produção do material eram maiores do que um mero trabalho em preto e branco, apesar do que poderia parecer ao olhar leigo, em vista da necessidade de se fazer fotolito de todas as cores do sistema de impressão quando houvesse mesmo que um pequeno detalhe em cor, como, por exemplo, o Assassino Amarelo ou os rubros lábios de algumas personagens femininas de Miller.

Observando o filme produzido a partir desses quadrinhos, dirigido pelo próprio autor da história, é possível observar uma transcrição literal dos elementos de quadrinhos, reproduzindo-se tudo metodicamente, desde a excessiva maquiagem nos atores envolvidos com o projeto até os detalhes de acabamento estético do material. Os papéis desempenhados pelos atores Bruce Willis e Mickey Rourke foram destaque, a partir de outro ponto destacado por Patati no sentido da adaptação dos quadrinhos para as telas, que consistia na permanência da identificação do ator sob as vestes e máscara dos personagens. Ao entrar nessa questão, o público participou bastante e a discussão sobre a importância da seleção de atores reconhecíveis foi extremamente agradável (essa questão já foi comentada aqui no blog antes). Apontando a necessidade de o ator e o personagem precisarem se complementar, onde nenhum nem outro pode ser maior que a união dos dois, foi comparada a profundidade da performance dos atores Bill Bixby e Edward Norton no papel do Dr. Bruce Banner, identidade humana do incrível Hulk.


Pekar costumava falar direto com o leitor em
muitas ocasiões ao longo de suas histórias

Retornando ao realismo da história policial presente na obra de Miller, Patati ressaltou o pólo oposto encontrado nos quadrinhos da mesma época, encontrado na revista "American Splendor", cuja história consistia nas experiência autobiográficas vividas pelo arquivista de hospital, fã de jazz e amigo pessoal de Robert Crumb, o habitante da cidade de Cleveland, Ohio, Harvey Pekar. Através de sua obra mais reconhecida, "Our Year With Cancer", onde relatou seu cotidiano de tratamento para curar um câncer que lhe acometeu e as repercussões disso na sua vida normal, Pekar alcançou um nível de profundidade nos quadrinhos underground que se tornou um marco no meio. Como um testemunho honesto de um obcecado, Pekar contou nas suas histórias todas as etapas de sua vida, como sua entrevista ao programa Late Show with David Letterman, e até mesmo críticas ao próprio leitor das histórias, alegando que o conteúdo ali presente não seria mais que um grão de areia que passou pela vida do leitor, sem modifica-lo e sendo apenas esquecido como tudo o mais. O filme realizado a partir dessa sua grande história será, inclusive, exibido sábado no evento da Caixa, e a recomendação para conferi-lo é bastante reforçada. A partir da apresentação destes dois pontos de abordar o realismo nos quadrinhos, Patati questionou: Qual dos dois atingiu maior sucesso na meta de retratar a realidade nos quadrinhos - Frank Miller ou Harvey Pekar? Essa questão, porém, é extensa demais para se resumir aqui, e nem mesmo em horas de discussão poderia se chegar a uma conclusão, tornando-se assim uma pergunta mais pessoal e reflexiva, a qual convido todos vocês, leitores do blog, a procurar mais fundo em vocês mesmos para talvez chegarem a uma conclusão.


Cena de "V de Vingança", escrito por Moore

No que se seguiu, foi lembrado o autor que conta atualmente com o maior nível de reconhecimento, provavelmente, do meio, o  britânico Alan Moore, cujo trabalho de pesquisa e uso dos recursos específicos dos quadrinhos o tornaram um dos maiores nomes da mídia dos quadrinhos. Comparadas suas origens às do brasileiro Zé do Caixão, Moore não teve uma educação tradicional durante sua infância, e foi escolarizado dentro de casa, alimentando uma paixão forte pelos gêneros do terror, da ficção científica e das histórias em quadrinhos enquanto recurso comunicativo. Autor de obras que se tornaram referências no mundo inteiro e que foram lembradas por Patati, como "Do Inferno", "A Liga Extraordinária", "V de Vingança", "Watchmen" e "Supremo", Moore se distinguiu dos demais pelo seu preciosismo aos detalhes, fossem estes descritos nas cenas de suas histórias ou apenas presentes em suas páginas de roteiro. Pesquisador afinco, que assumiu certas características narrativas similares às encontradas em grandes autores como o italiano Hugo Pratt (a construção da narrativa a partir de requadros específicos e estruturados) e o belga Hergé (o acréscimo de informações complementares do universo ficcional da história, afim de aprofundar o senso de realidade nela), suas histórias foram muito adaptadas para as grandes telas, porém, em nenhuma dessas ocorrências, houve aprovação do resultado final por parte de Moore.


Cena de "Watchmen"
Partindo do ditado italiano "tradutore, traditore", que compara a função de quem traduz uma obra àquela de quem trai a essência fundamental desta, Moore acusa todas as adaptações de suas obras de não serem fiéis o suficiente aos quadrinhos, e portanto, as desmerece, independente do retorno favorável do público ou não.

O brasileiro Luiz Gê

Moore, entretanto, serve de objeto de estudo para sua função de pesquisador antes de desenvolver cada história. Seu afinco pelo estudo e domínio sobre uma diversidade de assuntos bastante considerável são exemplares para os autores de quadrinhos de aventura, e neste ponto, volta a se mencionar o trabalho realizado pelo criador de Tintin, que costumava mandar artistas para visitar ambientes onde seu personagem estaria presente nos próximos álbuns para meramente desenhar todos os tipos de determinados objetos que eram encontrados no local, que mais tarde seriam usados de referência para os desenhos dele mesmo para o personagem. Patati ressaltou, ainda, que a forma como se dava a confecção de uma história na tradição europeia de revistas, com pequenas partes de diversas histórias publicadas semanalmente, é muito diferente da forma como se é possível observar no mercado atual. Citando uma visita que realizara aos estúdios do paulistano Luiz Gê, enquanto este realizava a produção do livro "Avenida Paulista", Patati destacou a simultaneidade da produção de páginas ao longo do prazo que o quadrinista tinha. Alternando entre quadros em diferente ordem de acabamento e até mesmo páginas sendo finalizadas fora da ordem narrativa, Luiz Gê produziu sua obra de forma eficiente, ainda que não-linear, como era visto na produção europeia.


Estevão Ribeiro marcou presença

No restante do dia, ocorreu a exibição de dois filmes que obtiveram imenso sucesso nas bilheterias ao redor do mundo inteiro, "Homem de Ferro", primeiro filme produzido pela divisão de filmes da editora Marvel propriamente dita, e "Watchmen", a épica história de super-heróis produzida por Alan Moore (que já foi tema de matéria no blog aqui e aqui). Contando com a presença de outros quadrinistas, como o extremamente cordial e camarada capixaba Estevão Ribeiro, criador das tiras dos "Passarinhos", cujo segundo volume de sucesso fora lançado no final de novembro do ano passado (que teve cobertura do blog aqui), que esteve presente para promover o curso de roteiro para histórias em quadrinhos da ascendente Impacto Quadrinhos, localizada em Botafogo, o evento teve um dia realmente bom, e apesar de não ver um movimento avassalador por parte do público, a profundidade do interesse dos visitantes presentes é uma recompensa muito bem recebida, e os apaixonados pela arte sequencial certamente têm se sentido satisfeitos com o trabalho realizado até o momento. Amanhã, haverá a conclusão do curso dado por Carlos Patati, mas a riqueza do conteúdo apresentado será levado para toda a vida, sem dúvida.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Segundo Dia de Atividades

Por Gabriel Guimarães


No segundo dia da oficina sobre as relações entre os quadrinhos e o cinema, ministrada pelo estudioso Carlos Patati, no evento "Super-Heróis X Anti-Heróis - Dos Quadrinhos às Telas", que ocorre no centro cultural da Caixa, no centro do Rio de Janeiro, o assunto principal foi a história dos quadrinhos de aventura na sua ótica europeia.

Após ter iniciado sua linha de raciocínio no primeiro dia contando o pioneirismo encontrado na obra "Wash-Tubbs", mais conhecido aqui no Brasil como "Capitão César", feita pelo americano Roy Crane para as tiras dominicais dos jornais, Patati retomou as mudanças da transição entre o gênero do humor para a aventura, apontando grandes nomes que ajudaram a consolidar os intrépidos protagonistas de histórias mais metodicamente trabalhadas, como Hal Foster, Alex Raymond e Al Williamson, para então partir para o mercado europeu de quadrinhos, citando nomes como Hugo Pratt, Jean Giroud, mais conhecido pelo seu pseudônimo Moebius, Ivo Milaso, Giancarlo Berardi, e a excelente tradição desenvolvida pela editora italiana Bonelli, cujos grandes nomes Giancarlo e Sergio Bonelli marcaram seus nomes na história dos quadrinhos (ano passado, após o falecimento de Sergio Bonelli, o blog prestou uma homenagem ao grande editor que pode ser vista aqui).


Cangaceiros no traço de Hugo Pratt

Começando pelo trabalho desenvolvido pelo italiano Pratt, que consistia em obras extremamente detalhadas acerca da cultura global de seu principal personagem, o marinheiro Corto Maltese (que já foi tema de matéria aqui no blog), Patati destacou influências do trabalho do americano Milton Caniff no que concerne ao belo uso do preto e branco contrastantes para reforçar determinados aspectos da história. A maestria narrativa do italiano também foi muito merecidamente destacada. O trabalho de pesquisa desenvolvido pelo ex-navegador e agora quadrinista também foi ressaltado, utilizando como exemplos obras em que seu personagem visitava terras do Oriente e até o nordeste brasileiro. Patati apontou, inclusive, que a riqueza do trabalho produzido por Pratt sobre a cultura do cangaço no nordeste brasileiro só se equipararia ao realizado pelo paulistano Danilo Beyruth, com sua obra "Bando de Dois", publicada há poucos anos atrás. Tendo em vista que o francês realizara sua história nesse cenário na década de 1960, é impressionante, portanto, sua dedicação para com a história que estava contando.

Uma vez que Pratt morou em vários pontos do globo, não é de se surpreender, então, que já tenha residido em países da América do Sul, como a Argentina, onde desempenhou papel fundamental para fomentar a escola de quadrinistas argentinos que começava a surgir na época, com nomes como Alberto Brescia, José Muñoz, e os autores do personagem "El Eternauta", que está para ser lançado esse ano aqui no Brasil pela editora Martins Fontes, Hector Oesterheld e Francisco Solano López (este último que foi tema de matéria aqui no blog). Dentre estes apontados, Patati destacou a carreira de Muñoz, que chegou a ocupar, inclusive, o cargo de presidente do comitê do Prêmio Ângoloume, da França, há dois anos, o qual é um dos maiores prêmios mundiais para a nona arte.

Voltando ao mercado europeu, o foco voltou-se para o personagem "Tenente Blueberry", criado e desenvolvido pelo mais humanizado Jean Giroud do que pelo mirabolante campo da ficção científica de Moebius. Através dessa história de velho oeste americano, feita por um autor não-americano, Patati destacou o trabalho exímio de pesquisa realizado por Giroud, e apontou as características do tradicional álbum francês presentes na obra, que constam na presença constante da cor, com tradicionalmente cerca de  48 páginas de conteúdo completo da história, publicadas de 2 em 2, em média, em magazines semanais especializadas. Observando os demais trabalhos do autor francês, agora mais próximo ao seu lado Moebius, foi explicado que a diferença verdadeira entre a verossimilhança de determinadas questões presentes nas histórias em quadrinhos vem da disponibilidade de prazos e condições de produção nacional referente aos autores daquele conteúdo especificamente. Enquanto John Romita Sr realizava um trabalho de destaque nesse sentido no Homem-Aranha junto a Stan Lee, dadas suas limitações de prazo, Moebius realizava obras de maior detalhismo e riqueza de traços pela liberdade que adquiriu no mercado europeu.


Outro artista que teve seu trabalho destacado também foi o americano Mike Mignola, que tal qual Pratt, utilizando de referências da literatura do escritor H. P. Lovecraft e influências determinantes do estilo de Caniff, produziu histórias de grande comoção do público, dando ênfase ao conflito ético inerente ao seu personagem de maior destaque, "Hellboy". Essa escolha entre o bem e o mal, apesar da natureza do personagem reforçou a temática das aventuras na história do protagonista, tornando-o uma referência para os leitores do gênero terror que procuravam algo com elementos de aventura e emoção. Todos esses conflitos e os trabalhos de pesquisa realizados pelos autores citados são elementos igualmente encontrados no desenvolvimento de filmes, e estão presentes no cotidiano dos profissionais na sétima arte.

Num campo talvez mais direto, foi apontada também a procura por parte da editora Bonelli em aproximar o visual de seus personagens aos de atores e atrizes mundialmente reconhecidos, dessa forma atraindo maior interesse do público, como são os casos do personagem Ken Parker e o ator Robert Redford (a qual pode ser conferida abaixo), a detetive investigadora Julia Kendall e a queridinha da América, Audrey Hepburn, o novo índio Mágico Vento e o ator Daniel Day Lewis, além dos personagens-escada presentes em todas as histórias da editora, tradição desenvolvida para esses quadrinhos italianos, como o caso do ajudante do investigador sobrenatural Dylan Dog, cuja aparência era exatamente a mesma do comediante Grouxo Marx.



Cena da primeira adaptação do
personagem Capitão América
para as telas

A apresentação foi extremamente interessante, e o conteúdo das informações dispostas simplesmente enriquecedor. O público, apesar de em não tão menor número, se mostrou bastante interessado, e as discussões sobre adaptações de quadrinhos para o cinema foi bastante comentada. Ainda ocorreram as exibições de obras como a primeira versão filmada do "Capitão América", de 1944, e o filme nacional"Besouro", sobre um herói capoeirista brasileiro, que dividiu a opinião dos visitantes presentes. Nos próximos dias, continuará havendo muita atividade, e até o dia 22 de janeiro, o público de quadrinhos tem, portanto, encontro marcado.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ano Novo, Evento Novo

Por Gabriel Guimarães


Mais um ano se inicia e o mundo dos quadrinhos logo dá sinal de atividade. Após um breve período de recesso, durante o qual foram organizados certos esforços para trazer novidades para o blog muito em breve, estamos de volta à atividade, e não poderia ser mais animado do que comentando sobre o primeiro dia do evento "Super-Heróis X Anti-Heróis - Dos Quadrinhos às Telas", realizado na sede da Caixa Cultural, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Organizado em torno da exibição de dezenas de filmes adaptados dos quadrinhos para a grande tela dos cinemas ao longo dessas próximas duas semana a contar de hoje, o evento reuniu um bom público, que ainda deve crescer conforme o evento for sendo mais conhecido.

Contando com uma divulgação cuidadosa, utilizando de propagandas nos pontos de ônibus e mesmo em exibição nos veículos destes que possuírem monitor para os passageiros, o evento ocorre em um local de acesso extremamente fácil, próximo ao metrô da Carioca, e conta com a presença de alguns dos conhecidos colegas na arte de admirar quadrinhos, como o estudioso Carlos Patati e o colecionador de revistas e histórias, Carlos Alberto Arafatt, que prestou em sua mesa de exposição uma homenagem ao falecido Humberto de Oliveira, antigo parceiro na loja de quadrinhos Gibimania. Apresentando na sua estreia os episódios da clássica série do Superman de 1948, o evento deu início às amostras com grande estilo. Tendo ocorrido também a inauguração da oficina sobre a relação entre cinema e quadrinhos, ministrada pelo próprio Patati, o auditório esteve bastante lotado.

Apesar do início um tanto inesperado devido a um súbito problema de saúde rapidamente remediado, Patati apresentou um grande e detalhado panorama do surgimento do gênero aventura nos quadrinhos de jornais, e o quanto essa narrativa começava a aproximar a mídia da nona arte com o cinema. Citando grandes nomes dos quadrinhos como Chester Gould, Milton Caniff, Chris Claremont e Will Eisner, o público teve um vislumbre de alguns dos responsáveis por erguer os pilares da arte sequencial americana, que influenciou, invariavelmente, o mundo todo. Com referências ao estilo dos quadrinhos de aventura, onde os personagens eram desenhados de forma simplificada para reforçar a identificação por parte dos leitores, com cenários extremamente detalhados para retratar a realidade ao redor dos personagens, foi apontada as influências desses elementos nos mangás e nos quadrinhos europeus, como Tintin e Corto Maltese.

Nas palavras do próprio palestrante, "os quadrinhos e o cinema não são gêneros, são mídias." A partir disso, foi-se destacado a diversidade de temáticas possíveis para serem abordadas em ambas e, dessa forma, reforçados os vínculos existentes entre os estilos artísticos de retratar a vida que são a essência do evento. Os detalhes históricos apontados também enriqueceram a apresentação, além de permitir ao público compreender até mesmo alguns costumes habituais de determinados artistas das editoras pioneiras americanas.

O dia foi um exemplo de camaradagem e cordialidade entre os presentes, e tirando talvez uma pouco merecida primeira impressão errada de parte do público sobre o excelente pesquisador que é o carioca Carlos Patati, o evento se mostrou mais um passo na direção de maior aceitação dos quadrinhos como forma de arte. Nos próximos dias, com certeza, haverá muito mais pelo que celebrar. A programação completa do evento pode ser conferida no site da equipe da agência Domínio Público, que está organizando tudo.