quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Quadrinhos em Cena

Por Gabriel Guimarães


Em "Quadrinhos, Sedução e Paixão", o estudioso dos quadrinhos Moacy Cirne destaca o potencial apaixonante inerente à narrativa criada pela estrutura de requadros que todas as histórias em quadrinhos dispõem, estando apenas limitadas à potencial habilidade daqueles envolvidos na sua composição. Destacando a sedução como uma arte de envolver o leitor, ele expande e analisa algumas outras mídias, criando pontes entre esses diferentes universos ficcionais. Dando destaque ao cinema, ele compara a atuação dos profissionais das grandes telas e a escolha de ponto de vista dos diretores às decisões editoriais que ficam a cargo de roteiristas e desenhistas talentosos. Cirne, porém, não aborda, ainda que fosse de teor plenamente compatível, a arte do teatro e sua semântica corporal com as obras gráfico-textuais que inundaram nosso consciente ao longo de mais de um século até agora.
 
Tendo sido talvez o grande meio de entretenimento das sociedades no período anterior à captura da imagem, o teatro é literalmente palco para grandes obras e grandes profissionais. O potencial de sua dramaticidade crua e sua metamorfose contínua acabam por tornar um pequeno segmento construído, em geral, de madeira, uma tela em branco para as mais mirabolantes aventuras e histórias. O romance e a poesia inerentes a esse processo permancem até os dias de hoje, servindo como instrumento de exposição social. Igualmente, os quadrinhos, que outrora representaram apenas uma arte semiótica básica, hoje possuem uma profundidade de destaque, o que leva a um interessante ponto de observação sobre essas duas formas de representação.
 
Adaptação de "Hamlet"
feita por Sam Hart
A arte que consagrou Shakespeare, hoje reconhece e engrandece ainda mais a obra de Eisner. Isso é um marco que merece e deve ser lembrado, tal qual a direção oposta dessa ocasião, que igualmente ocorre. Estes dois nomes são extremamente importantes nessa análise por terem uma natureza tão viva, ainda que estes dois consagrados profissionais já não mais estejam vivos. Shakespeare hoje é adaptado de forma constante para as histórias em quadrinhos, em graphic novels de qualidade variante, mas sempre de conteúdo rico. A sua obra "Hamlet", por exemplo, foi adaptada pelas mãos do desenhista inglês naturalizado brasileiro Sam Hart, e publicado em vários países ao redor do mundo por sua qualidade. Igualmente, o próprio Eisner prestou homenagem ao grande autor de peças em um pequeno exemplo narrativo dentro de sua obra máxima, "Quadrinhos e Arte Sequencial", que apresenta em dado momento um diálogo escrito por Shakespeare no telhado de um prédio decadente da grande metrópole, cenário tradicional do material de Eisner, por uma figura completamente inesperada, de um hippie, ao admirar o céu e o próprio espectador. Ademais, a editora Nemo, atualmente, tem publicado uma série de histórias shakespearianas em formato quadrinístico com grande qualidade de conteúdo e de material editorial.
 
Eisner foi um dos ainda poucos quadrinistas que conseguiram seguir o caminho oposto, e teve sua obra "Avenida Dropsie" adaptada para o palco das artes cênicas. Apresentada nos Estados Unidos e Brasil, a peça teve um retorno bastante positivo, ainda que sua temporada de apresentação tenha sido curta. Outros grandes nomes do meio também já passaram por essa transição, mas não da mesma forma. O roteirista britânico Chris Claremont, responsável por um dos períodos de maior sucesso nos quadrinhos dos "X-men", se formou em um curso de teatro originalmente, e trabalhou com esse setor em algumas escassas ocasiões, sem, porém, haver qualquer conexão com sua faceta quadrinística. Ainda assim, é com orgulho que podemos mencionar um trabalho brasileiro que seguiu o trajeto percorrido pela obra de Eisner. O desenhista paulistano Mário Cau, que participou de projetos como "MSP50", além de muitas outras publicações pelo selo do grupo de autores independentes "Quarto Mundo", teve, em 2011, sua história "Pieces" adaptada para o palco sob direção de Max Sawaya. Quem tiver o interesse de conferir como foi a performance do trabalho sobre a obra de Mário pode conferir em seu blog, que pode ser acessado aqui, e cuja primeira parte pode ser vista abaixo.



Outras obras, ainda, apresentam uma forma um tanto similar à metalinguagem sobre essas duas obras, como o quadrinho brasileiro independente "Ato 5", de autoria da dupla André Diniz e José Aguiar, que conta a história da composição de uma peça de teatro e seus percalços durante a ditadura militar no Rio de Janeiro.

Conforme destaca Cirne, "a arte que não sabe seduzir não leva à paixão, não leva à reflexão" e, portanto, não há como desconsiderar a capacidade e conexões entre essas duas formas de arte tão fundamentais e essenciais para o nosso cenário social atual. O teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, tem incentivado essa relação com a exposição "Os Novos dos Quadrinhos Brasileiros", que estará em exibição até o dia 13 de dezembro e já foi conferido aqui no blog. Apesar de não apresentar uma interligação entre os dois meios propriamente dita, a apresentação serve para atrair um olhar mais atento para a arte dos quadrinhos por aqueles que estão mais acostumados às peças teatrais, e vale a pena ser conferida.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Exposição de Quadrinhos em Leblon

Por Gabriel Guimarães

 
Desde o dia 13 de agosto deste ano, no Teatro Oi Casa Grande, localizado praticamente em anexo ao Shopping Leblon, está sendo realizada a exposição "Os Novos dos Quadrinhos Brasileiros", pela curadoria da historiadora carioca Cristina Tepedino. Com páginas originais de grandes quadrinistas do mercado brasileiro, como os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, o proeminente João Montanaro e os cartunistas André Dahmer e Arnaldo Branco, a apresentação merece uma conferida dos amantes da arte sequencial.
 
Apesar de não possuir uma área muito ampla para apresentar o trabalho, a exposição expõe as obras com um cuidado especial em prol de sua preservação e permite um olhar abrangente sobre a nova face do quadrinho nacional. Apresentada no saguão de entrada do Teatro, a exposição ocupa dois corredores à direita de quem entra no recinto, com uma breve introdução apresentada na parede de entrada. Contando com uma pequena cafeteria ao fim da exposição, o clima é agradável e permite que o visitante possa observar pacientemente todos os quadros.
 
Para quem quiser aproveitar a viagem para um passeio pelo bairro do Leblon, fica a recomendação de visitar os dois shoppings próximos ao Teatro, com seus respectivas livrarias. Além do já citado Shopping Leblon, ao atravessar a rua, fica o shopping Rio Design, que dispõe de grande parte do quarteirão onde se localiza.
 
É extremamente animador ver mais eventos focados no trabalho com os quadrinhos nacionais e seus principais nomes atualmente. Ainda que não seja da mesma dimensão de uma convenção como a Rio Comicon (que foi coberta em suas duas edições aqui no blog e cuja ausência esse ano foi tema de matéria aqui também), este tipo de evento permite uma maior relação do público com o conteúdo vendido nas bancas e livrarias e torna a história transmitida através da arte gráfica algo mais humano e belo. Que este ano ainda possa nos reservar boas surpresas assim.
 
O público das peças e shows apresentados no Teatro tem a
chance de conhecer um pouco mais dos quadrinhos brasileiros atuais
O Teatro funciona a partir das 16h e a entrada é franca. A exposição permanecerá lá até o dia 13 de dezembro e possui o patrocínio dos Correios. Fica dada a recomendação.